Uma filha muito amada dos pais nasceu em meio a festas, sorrisos e afagos. Criança muito assistida, cuidada, vai crescendo numa casa de amor. Tudo à sua volta dá impressão de um cenário montado de um lindo filme infantil. Um clássico, com música, roteiro, e efeitos especiais.
O tempo passa e a criança começa a ampliar suas visões de mundo. Vai percebendo sons, cores, movimentos, formas. Descobre que sua casa não é só o seu quarto, descobre que há mais pessoas além da mamãe e do papai. Há também a vovó, o vovô, a babá ...e assim, o seu mundo vai se ampliando.
Mais tarde, descobre que mamãe e papai, às vezes, conversam num tom de voz diferente. Começa a perceber que, depois dessas conversas, eles ficam tristes e calados. Quando ela começou a perceber isso, passou a ficar triste também. Tinha medo daquilo.
O tempo foi passando e as conversas, em casa, foram ficando cada vez mais esquisitas. Mamãe passou a chorar mais. Sempre que ela se trancava no quarto, todos ficavam em silêncio. As coisas não andavam bem, mas depois de um certo dia, tudo ficou muito difícil.
Papai e mamãe, como de outras vezes, conversavam daquele jeito, mas, algumas palavras soaram de modo diferente. A filhinha linda agora percebe que algo muito grave está acontecendo. Mamãe entra para o banheiro e fecha a porta, e ela vê quando papai coloca algumas roupas na mala.
A menina fica ali, em pé, na porta do quarto. Ela vê quando o papai se aproxima e, colocando a mala no chão, abaixa-se e a toma nos braços, e, num longo abraço, a beija e diz: “Papai vai viajar, vai ficar fora uns dias... e, nunca se esqueça, papai ama você de todo o coração.”
Os dias passam, a princípio, lentos. Depois vazios, e mais adiante, tristes. A casa, depois da saída do papai, ficou um lugar triste. Mamãe não ouviu mais suas músicas, os amigos não vieram mais.
Aquela criança cresceu, tornou-se uma linda garota.
Os amigos, um dia, a convidaram para participar de um evento, uma reunião de mocidade de uma igreja, como eles diziam. Movida mais por um sentimento de curiosidade, ela foi com os amigos.
Achando tudo muito interessante, observava cada detalhe: as músicas, as vozes do pessoal, as coisas que diziam. Até que algumas lembranças vieram surgindo, emergindo lá do fundo.
Ela viu novamente seu pai se despedindo, dando-lhe aquele longo e apertado abraço. Ela viu muitos dias e noites que se seguiram, todos tristes, vazios.
Muitas coisas foram surgindo, e, uma dor veio junto. Tinha se esquecido daquela dor. Depois que o papai foi embora, passou a sentir uma dor lá no fundo.
Por muitas vezes, ela se perguntou: Por que esta dor não passa? Tinha uma impressão de que era algo relacionado com o papai, mas sempre teve medo de dizer a mamãe.
Naquela noite, na reunião da mocidade da igreja, a dor voltou a incomodar. Aliás, até que ela já tinha se acostumado, depois de anos. Ela pensou. Mas, agora ela percebeu de modo mais claro. Teve uma clara idéia do que seria aquela dor.
Tudo aconteceu quando estavam cantando uma música, cuja letra dizia assim: “Junto a Ti, teu amor me envolve, atrai-me, prá o teu lado estar, espero em Ti e subo como águia, nas asas do Espírito, contigo voarei, no poder do Teu amor.”
Quando ela ouviu a canção dizendo sobre um amor que envolvia, que pedia: “atrai-me para o teu lado estar”, algo lá dentro do seu ser remexeu, contorceu-se. E aquela velha dor veio e subiu à tona.
Mas, de modo tão inexplicável, ao mesmo tempo, uma voz suave começou a murmurar lá no fundo no seu ser. E ela, ainda sem dar conta do que estava acontecendo, percebeu que algumas palavras surgiam saltando, dançando diante dos seus olhos. Os seus ouvidos ouviam a música que o conjunto cantava, mas outras palavras vinham lá de dentro, pronunciadas de modo claro, lindo, maravilhoso: “Filhinha, Eu amo você! Eu sou o seu Pai Celestial. Desde que o seu papai foi embora, você passou a sofrer. Você se tornou uma pessoa triste, com um coração machucado. Mas hoje, eu a trouxe aqui neste lugar, para curar a sua dor. Saiba que estive todos os dias, todas as noites cuidando de você. Jamais deixei você, nunca a abandonei. Mesmo que você não pudesse me ver, mas estive todo o tempo do seu lado. Agora estou curando a sua alma, o seu coração. A partir de hoje, você se torna uma pessoa livre, abençoada e feliz.”
De volta em casa, chama a sua mamãe, dá-lhe um beijo e, sorrindo, lhe diz: Mamãe, venha aqui, quero lhe falar de um encontro que tive com o meu verdadeiro pai. Sua mãe, muito surpresa, pergunta: Que é isto, filha, não estou entendendo!
Dias depois, filha e mãe estão lado a lado, em pé, em meio às mais de mil pessoas espalhadas pelo templo daquela igreja. A música começa, e elas, se entreolham. Nos olhos, uma alegria contagiante. Por todos os cantos as vozes entoam, num lindo coral, as palavras: “Junto a Ti, teu amor me envolve, atrai-me prá o teu lado estar.”
As mãos se levantam, ambas olham para cima e continuam cantando: “Meus dias viverei, no poder do teu amor.”
De volta para casa, ambas sorriem. Mamãe se volta para sua querida filha e diz: E então filha, você está pronta agora? Pronta para quê, mamãe? Respondeu a filha. Ao que a mamãe retrucou: Agora que você entregou o seu coração para Jesus, você está pronta para se encontrar novamente com o papai? A filha retruca: Por quê? Você sabe de alguma coisa dele? A mamãe sorri e diz: Olha filha, o papai nos escreveu, há alguns meses atrás. Eu não queria responder. Ele pedia para vir nos visitar. Mas, quando fui a igreja com você e vivi aquela linda experiência com o amor de Deus, fui curada de toda a dor, de toda a mágoa, então resolvi permitir que ele viesse nos ver.
A filha, nesse momento, exclama: “Ó mamãe, que alegria estou sentindo.”
Nesse ponto, a mamãe continua: Mas, isso não é tudo, filhinha. Quando escrevi de volta para o papai, contei-lhe tudo o que havia acontecido conosco. E, rapidamente, ao receber a minha carta, ele nos escreveu dizendo: “Depois de algum tempo que saí de casa, eu também entreguei minha vida a Cristo. Tinha vontade de voltar, recomeçar a nossa vida, mas tinha muita vergonha de tudo o que aconteceu. Saí de casa por causa de uma mulher. Mas Deus a afastou de mim. Há mais de cinco anos, vivo sozinho, mas sempre orando, pedindo a Deus uma oportunidade de voltar para minha casa, para minha família. Ao receber a notícia do que Deus realizou na vida de vocês, fiquei imensamente feliz. Estou desejando ardentemente voltar. Como estamos perto do dia de Natal, deverei chegar aí na noite do dia vinte e quatro. Vamos voltar a fazer a nossa ceia de natal. Beijos para você e nossa amada filha. Amo você, sempre amei.”
Agora, no culto do dia trinta e um de dezembro, o pastor convida a todos para o louvor. Todos se levantam, e no primeiro banco da fila, reunidos novamente, pai, mãe e filha. O piano toca suavemente as primeiras notas que ecoam pelo templo. Escorrem dos olhos de mãe e filha, lágrimas de uma grande alegria. E todos começam a cantar. “Que prazer cantar aquela canção!” A mamãe fica pensando: “Como Deus é grande! Que amor maravilhoso!” Olha de canto de olho para o marido ao lado, repara em sua mão estendida adorando, a aliança brilhando no dedo. Vira-se para o lado, e vê quando a filha respira e com energia canta: “Junto a Ti, junto a Ti, teu amor me envolve, atrai-me prá teu lado estar...”
Gostei muito, me fez pensar ,quantas famílias estão necessitando de algo assim. Um reencontro direcionado por Deus.
ResponderExcluirPr. Allan Christian